Fenômeno pode afetar todo o hemisfério Sul, diz biólogo
No rosário de desgraças cada vez mais previsíveis do combo El Niño-crise climática, um elemento ainda estava faltando: o aquecimento do Pacífico tropical no biênio 2023-2024 ainda não havia causado branqueamento maciço de corais na Austrália e em outras regiões do planeta, como ocorreu em 2015-2016.
Pelo visto não falta mais: o Coral Reef Watch, do governo americano, emitiu um alerta para o que pode ser o pior evento de branqueamento da história, com potencial de afetar o mundo inteiro. Nesses fenômenos, ondas de calor marinhas fazem as colônias de coral perderem as algas simbiontes que lhes dão cor e das quais os corais dependem para se alimentar. O resultado é que os recifes ficam brancos e frequentemente morrem depois. Quanto menor o intervalo entre as grandes ondas de calor oceânicas, menor a chance de recuperação dos recifes.
O primeiro branqueamento em massa foi registrado no El Niño de 1997-1998, quando incêndios florestais destruíram 40 mil quilômetros quadrados de mata em Roraima. A dupla catástrofe ambiental se repete agora: o número de focos de calor detectados no estado em fevereiro foi o maior desde o início da série histórica do Inpe, em 1999.
O caso dos corais assusta por dois motivos: primeiro, porque eles podem ser o primeiro grande ecossistema extinto pela mudança do clima – e arrastarão consigo o modo de vida de milhões de seres humanos que dependem dos seus recursos pesqueiros e do turismo em seu entorno. Segundo, porque seu colapso não era previsto pela ciência para antes dos anos 2030. Com o aquecimento da Terra prestes a ultrapassar o limite de 1,5 °C de forma permanente, esses ambientes mágicos e delicados não resistirão. Dói dizer, mas conheça-os enquanto pode.
Quarto branqueamento em massa de corais está batendo à porta
O Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), disse nesta semana que estamos prestes a ver o quarto branqueamento em massa de recifes de coral, ecossistemasessenciais para a sobrevivência de outras espécies marinhas. Para o biólogo Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch, este pode ser o pior evento de branqueamento da história do planeta. “Parece que todo o hemisfério Sul vai provavelmente branquear neste ano”, afirmou à agência Reuters. Isso inclui o Brasil e a Grande Barreira de Coral da Austrália, considerada o maior organismo vivo do mundo. Os corais estão mais suscetíveis ao branqueamento por causa do aumento anormal da temperatura dos oceanos. Episódios globais de branqueamento aconteceram em 1997-1998, 2010 e 2016-2017.
O aquecimento do oceano tem batido recordes nos últimos meses. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o termômetro disparado na superfície do mar não é culpa apenas do fenômeno natural El Niño. O aquecimento global causado pelas ações humanas tem uma responsabilidade gigantesca nesse distúrbio. A propósito, o El Niño atingiu o pico e está em ritmo de enfraquecimento, mas ainda tem 60% de chances de contribuir para temperaturas do ar acima do normal em quase todo o planeta entre março e maio.
Nesta semana, o serviço climático europeu Copernicus mostrou que o mês passado já foi o fevereiro mais quente da história, com 1,77 °C mais que a estimativa da média do mês para o período pré-industrial (1850-1900). Além disso, por quatro dias consecutivos a temperatura média global alcançou 2°C acima dos níveis pré-industriais. A temperatura média global dos últimos doze meses, de março de 2023 a fevereiro de 2024, também é a mais alta registrada: 1,56 °C acima da média pré-industrial.
Fonte: https://oc.eco.br/na-newsletter-agencia-alerta-para-branqueamento-de-corais-na-despedida-do-el-nino/